05
Out

PAULO FERREIRA – ENTREVISTA AO ATLETA E CEO TRIBUTUS

Paulo Ferreira, o fundador da Tributou, iniciou-se no trail running em 2016 e tornou-se num atleta de gabarito, participando nas provas mais icónicas do mundo. Em entrevista, conta-nos o que o atraiu na modalidade.

Na Tributus, também temos na equipa atletas de trail running – um deles é o nosso fundador, o Paulo Ferreira, que já correu em algumas das provas mais icónicas do mundo, como a famosa Ultra Trail Mont Blanc.
Iniciou-se no trail running em 2016 e desde então tem corrido longas distâncias, entre trilhos da natureza e do empreendedorismo. Se o Ultra Trail Mont Blanc (UTMB) foi a prova mais emblemática e a de Val d’Aran a mais dura, a grande maratona que testa a sua resiliência, disciplina e liderança é a Tributus, a empresa que criou em 2022.

Conta-nos como te envolveste na modalidade

Foi através de um colega do ginásio que um dia me desafiou a fazer um treino com ele. Não foi nada fácil, embora tenha gostado da experiência de correr em montanha (que é sempre um desafio). Nessa altura, estava a precisar de perder um pouco de peso e procurei ajuda junto de um nutricionista. Ora, por coincidência, ele praticava trail e que também desafiou a treinar com ele e com uns amigos. E lá fui com eles, num domingo de manhã.
Nesse dia, entre o treino e a conversa, ele diz que vai participar numa prova dali a três semanas e eu pensei para comigo «vou também, porque não?». E foi assim que me envolvi no trail, em 2016, na prova Trail Amigos da Montanha, em Barcelos. Entre 600 atletas inscritos, consegui a 55ª posição – para mim, que só tinha começado a correr há cerca de um mês, foi excelente!
Claro que esta classificação deu-me motivação e a partir de então foi sempre a correr.

O que te atraiu especificamente no trail em comparação com outras modalidades de corrida?

Foi e é o contacto com a natureza e os desafios constantes que nos fazem estar sempre alerta, sempre com muita atenção. Ao contrário da corrida em estrada, a corrida em montanha não é monótona, porque, mesmo que se corra um percurso igual todos os dias, há circunstâncias que o tornam diferente no dia seguinte – pode aparecer um animal, o trilho pode ficar molhado, com folhas e galhos caídos, etc..

O trail running apresenta muitos desafios. Para ti, quais são os maiores?

Na minha opinião, o maior desafio é o da superação. No trail running, temos de estar fisicamente muito bem preparados: é preciso resistência, agilidade e força de corpo (braços e pernas), porque estamos a correr em terrenos irregulares, com bastante desnível (tanto positivo como negativo) e de diferentes tipos de solo, com inúmeros obstáculos para ultrapassar, como trepar pedras. Há ainda as coisas que temos de levar connosco, como água e mantimentos, equipamento para nos protegermos das condições climatéricas (sobretudo em alta montanha) e um sistema de navegação (o GPS). É preciso cumprir com um bom plano alimentar antes, durante e depois da prova. A hidratação, por exemplo, é fundamental. E depois, temos de estar muitíssimo bem preparados psicologicamente. Porque na montanha tudo pode acontecer, pode estar tudo bem e, de repente, fica tudo mal com intempéries.

Quando corrias, como te mantinhas mentalmente forte durante corridas?

Por natureza, sou uma pessoa muito disciplinada, muito focada e com método, e transporto isto para o trabalho, e também para os treinos e para as provas. Durante a corrida, focava-me não no fim da prova, mas em chegar ao próximo abastecimento e em ser muito rigoroso e cuidadoso durante esse segmento. E ajudou o facto de estar em excelente forma física, de treinar com método e de ser uma pessoa resiliente e otimista.

Em relação ao treino, que tipo de rotina tinhas quando te preparavas para as provas?

>O meu plano de treino era traçado pelo meu treinador, o Armando Teixeira, que é um dos maiores nomes do trail a nível mundial, e eu cumpria-o à risca, não falhava. Esse plano incluía alimentação, descanso e preparação física. Um mês antes de uma prova, o treino consistia na simulação dessa prova: ia correr devidamente equipado, com os bastões e de mochila às costas, com tudo aquilo que iria levar comigo durante a prova. O treino era bastante intenso durante três semanas e depois baixava à medida que se aproximava a data da prova. Uns quatro ou três dias antes da prova, fazia uma massagem de recuperação muscular.

Qual foi a prova que gostaste mais de fazer e porquê?

É difícil fazer uma escolha, houve várias provas de que gostei. Mas acho que vou mesmo destacar a icónica Ultra Trail Mont Blanc (UTMB). Primeiro, porque foi a primeira vez que corri 100 km e numa altitude acima dos 2500 m, no ponto mais alto da Europa Ocidental e numa prova internacional. Depois, porque é uma ultramaratona de alta montanha. E finalmente, e acima de tudo, pela envolvência mágica: localiza-se no sopé da vila de Chamonix, a “Meca do trail” como é chamada entre os atletas, um ambiente único onde confluem pessoas de todos os cantos do mundo e de várias nacionalidades. Ali vive-se e respira-se desporto, há um convívio entre todos, é uma experiência fenomenal.
Também gostei muito do Madeira Ultra Island Trail (MUIT), cujo terreno é até muito mais duro do que o do UTMB e as paisagens são lindíssimas, e do Ultra Trail Val d’Aran, nos Pirenéus, pela paisagem incrível e por ter sido um desafio enorme. Fui para lá com uma entorse, portanto, não estava na melhor forma física e o terreno é extremamente técnico. Conclui a prova, mas foi tão duro que tive de levar soro no regresso e a recuperação foi mais lenta.

E qual foi a mais desafiante e porquê?

Sem dúvida, a de Val d’Aran e pelos motivos que já referi. Um mês antes da prova, fiz uma entorse de média gravidade durante um treino. Claro que pelo meu fisioterapeuta eu não teria feito a prova, dado a inevitabilidade de ficar pior, mas decidi participar na mesma. Portanto, a todas as enormes dificuldades que aquele percurso apresenta aos atletas, acrescentei mais uma – a limitação física.
Aliás, até tive outra dificuldade, a de ter feito a prova sem ninguém conhecido nos pontos de abastecimento. Ao contrário da de Mont Blanc, aqui estava por minha conta e risco, sem ninguém para me dar apoio, sem ninguém com quem conversar durante as 20 horas que durou a minha corrida.
E finalmente, houve um último desafio e este sim, revelou-se muito duro e de consequências muito sérias. É que durante a prova, num dos pontos de abastecimento, eu e cerca de 200 atletas bebemos água contaminada, pelo que depois da prova estivemos muito mal. Ficámos nos quartos do hotel aguardando a hora de embarcar para casa e à chegada a Portugal fui levado para o hospital.

O que te deu o trail?

Olha, deu-me lesões! (risos)
O trail deu-me imenso e a vários níveis, incluindo o profissional. A Tributus não existiria se não fosse o facto de ser atleta de trail e de conhecer vários organizadores – vi uma oportunidade de negócio e arrisquei. Graças à participação em provas, pude conhecer locais de rara beleza, a maioria em Portugal. O nosso país tem paisagens deslumbrantes e algumas delas só se conseguem aceder pelos trilhos, são desconhecidas da maioria das pessoas. O trail deu-me este privilégio de estar em locais únicos, mas também o de conviver com muita gente, portugueses e estrangeiros.
Mas, acima de tudo, o trail permitiu-me um desenvolvimento pessoal incrível – aumentei o meu leque de conhecimentos, ganhei mais foco e disciplina; trouxe-me mais motivação e fé (no sentido de acreditar que tudo é possível), e tornei-me mais resiliente.

Na tua opinião, que atributos/personalidade combina com o trail? O que é preciso ter/ser para se ser um atleta de trail running?

É preciso ser-se disciplinado e muito focado, orientado para encontrar soluções. Depois, ser persistente e resiliente, ter coragem e não desistir. Ter um enorme respeito pela natureza e, finalmente, ter fé e acreditar que tudo é possível, desde que nos empenhemos e trabalhemos pelas coisas.

Quem ou que te inspira?

Há vários atletas que me inspiram, referências nacionais e internacionais com quem tive o privilégio de conviver, dos quais destaco o Armando Teixeira, que foi meu treinador, o Bruno Coelho e o Killian Jornet.

Que conselhos/orientações dás a quem está a considerar iniciar-se no trail running?

Seja para quem pretende praticar exercício ou para quem pretende levar a modalidade um pouco mais a sério, as minhas orientações são quase as regras básicas:
• ter sempre muito cuidado;
• estar em boas condições físicas e ter uma alimentação saudável;
• pesquisar e obter o máximo de informação sobre os percursos e as condições climatéricas, para saber o que levar (por exemplo, se é necessário levar bastões);
• começar por percursos mais curtos e ir aumentando as distâncias à medida que o corpo e a mente se vão treinando e habituando às longas distâncias; o trail é um processo e tem o seu tempo;
• correr acompanhado e nunca estar sozinho na montanha, tampouco se aventurar sozinho, sobretudo se ainda não tem experiência – porque é muito fácil entrar em pânico em situações de perigo e, como já referi, na montanha tudo pode acontecer;
• levar sempre água e um telemóvel, de preferência com GPS;
• vestir roupa adequada e levar sempre mais peças na mochila, como gorro, luvas, impermeável;
• não ter receio nem constrangimentos de levar coisas a mais (água, comida, roupa, equipamento) na mochila: pode ser mais peso, mas nunca se sabe o que pode acontecer na montanha e é preferível estar prevenido do que remediado;
• estar sempre contactável.
Para quem tiver objetivos mais ambiciosos e quiser participar em provas, então, recomendo vivamente que tenham o apoio de um nutricionista e de um médico de medicina desportiva.

Se gostou da entrevista e ficou com curiosidade sobre a modalidade, sugerimos que consulte a Associação de Trail Running de Portugal, a Federação Portuguesa de Atletismo ou algumas plataformas especializadas, como a Trail Running ou a Correr por Prazer.
Pode também entrar em contacto com o nosso fundador, o Paulo Ferreira, ele vai ter todo o gosto.
Continue a ler os nossos artigos e acompanhe-nos no Facebook, no Instagram e no LinkedIn.


Imagens © Direitos reservados