Aos 30 anos, Juliana Costa é já uma das referências nacionais da fotografia desportiva. Requisitada para fotografar eventos em Portugal e no estrangeiro, conversou connosco sobre os desafios e os encantos desta profissão.
É um dos nomes de referência no que toca à fotografia desportiva, nomeadamente à fotografia de provas de trail running, área em que se especializou. Requisitada por entidades, marcas e organizações nacionais e internacionais para acompanhar atletas durante a sua corrida e captar os momentos mais emocionantes das provas, Juliana Costa foi também requisitada pela Tributus e faz parte da equipa.
Como e quando começou o teu interesse em fotografar provas desportivas? Houve algum evento que te tenha inspirado?
Não um evento que me inspirou, mas foi uma amiga que me incentivou e tudo começou por casualidade, durante um almoço. Durante a conversa, comentei que tinha uma máquina nova e mostrei-lhe as fotografias que tinha tirado à cidade do Porto.
A minha amiga, que é atleta de trail running (e que nesse ano tinha sido escolhida pela Federação Portuguesa de Trail para integrar a seleção nacional), olhou para mim e disse «por que não começas a fotografar [provas de] trail? Olha que pagam aos fotógrafos». Ouvi aquilo e fiquei entre perplexa e maravilhada, nem sabia o que pensar. «A sério, pagam para se fotografar trail?!», respondi.
Nessa altura, em 2019, eu não tinha noção do que é uma prova de trail nem a nível da prova em si, nem a nível da logística, nada, só sabia que era correr na montanha [risos] – e o sabia era porque um primo meu é atleta de trail. Bem, sabia mais um pouquinho… conhecia de nome atletas e fotógrafos mais famosos, porque o meu primo mostrava-me algumas fotos tiradas por esses fotógrafos àqueles atletas.
Mas era só isto, tinha lá eu ideia de que há diferentes modalidades de trail, consoante as distâncias percorridas, ou que uma prova pode ter várias etapas! [risos] Já para não falar de pormenores técnicos como a existência de diferentes dorsais [com cores distintas para se reconhecer qual a distância que um atleta vai fazer].
Voltando ao tal almoço e à conversa com a minha amiga, eis que ela lá me entusiasma a experimentar fotografar um evento e sugere que comece pelo LouzanTrail, que se realizaria dali a uns dias. E lá fui eu! Já podes imaginar a aventura que foi, fotografar uma prova sem a mínima noção do que está envolvido.
Depois do LouzanTrail, estive no Fafe Trail (que já não existe) e, logo de seguida, o organizador do evento Trail Fisgas de Ermelo, o Eduardo Meireles (desde então, somos muito amigos), contratou-me – foi o meu primeiro trabalho como fotógrafa profissional. E a partir daí, não parei.
Fotografar modalidades ao ar livre será, com certeza, desafiante. Quais são os desafios que enfrentas e como os ultrapassas?
Fotografar ao ar livre é do que mais gosto, adoro a montanha, adoro o ar puro, adoro subir ao topo de uma montanha e desfrutar do privilégio que é apreciar paisagens únicas. Mas claro que isto não é um mar de rosas e há muitas coisas que desafiam o meu trabalho, como as condições climatéricas. Já fiz [fotografar] muitas provas em que chovia torrencialmente, outras em que o vento quase que me derrubou. Outro desafio é o de fotografar à noite. Confesso que ainda hoje sinto receio (e acredito que não seja a única), porque no campo, na montanha, a noite é avassaladora: não se vê nada, nada mesmo, apesar de se levar o frontal [luz usada na cabeça], e está-se sozinha num determinado spot à espera que os atletas passem. Às vezes, espera-se mais de uma hora. O que faço eu para ultrapassar este medo? Ponho-me a pensar que estou a fazer aquilo de que mais gosto, ponho-me a imaginar como é que vou fotografar… enfim, tento focar-me ao máximo em pensamentos positivos e medos fogem todos [risos]. No final, vale sempre a pena, o resultado compensa tudo. E as fotografias captadas nestes momentos mais difíceis são, geralmente, as mais impactantes porque conseguem transmitir melhor a essência do trail puro e duro, aquele “dramatismo” expresso nos atletas.
Cada evento desportivo tem sua própria dinâmica e momentos únicos. Como fazes para os captares na tua lente, tens técnicas especiais?
Não tenho técnica especial, na minha opinião cada fotógrafo tem a sua visão e sua maneira de fotografar, e é isto que nos distingue. No entanto, tenho sim é muito treino e isso faz toda a diferença. Quando me refiro a “treino” significa fotografar para experimentar posições, ângulos, iluminação, etc.. O que fiz foi pedir a vários atletas para fazer sessões fotográficas no terreno simulando situações de provas. Desta forma, e de fotografia em fotografia, fui recebendo o feedback e as dicas dos atletas e ganhei noção da forma como a maioria prefere ver-se retratada (posições/posturas/movimentos), e a nível da técnica pude perceber aquilo que precisava de melhorar.
A isto juntei horas e horas de “formação” no Youtube [risos], aprendendo técnicas, e de observação do trabalho de grandes fotógrafos desportivos que admiro, como Jordi Saragossa, Roger Salanova, Ian Corless e Jose Miguel Muñoz.
Outra estratégia que adotei foi a de me tornar uma fotógrafa muito versátil: já fotografei eventos de trail, crossfit, XCO, atletismo, ciclismo profissional, entre outras modalidades. É uma forma de ultrapassar desafios e de aprender, porque cada modalidade tem ritmos e cenários diferentes.
A fotografia desportiva envolve interação com os atletas e a equipa da organização. Como é a tua relação com eles?
Tenho uma ótima relação com os organizadores dos eventos desportivos, e acredito que é também por isto que me contratam de ano para ano. E o mesmo se passa com atletas e colegas fotógrafos, damo-nos todos bem. Com estes últimos, troco ideias, novidades da área e conhecimento. Adoro todo este espírito de camaradagem, que no trail é muito pronunciado – aliás, graças ao trail tornei-me uma pessoa menos tímida, comecei a interagir com pessoas desconhecidas e isto ajudou-me a ser mais espontânea, mais direta, a trabalhar em equipa e a superar medos. Mas, vá, acho que sou uma pessoa flexível e adapto-me bem às pessoas [sorriso].
Qual o evento de que gostaste mais de fotografar e porquê?
O evento que mais gostei foi o Fogo Vulcan Trail 2022, uma das etapas do Cabo Verde Trail Series que decorre na Ilha do Fogo. Nessa semana também se realizou o Salomon Trail Running Camp – a Salomon é uma famosa marca do mundo do desporto e do TrailRunning inclusive, e tem a sua própria equipa de trail da qual fazem parte os melhores atletas do mundo.
Portanto, para mim foi uma oportunidade única de conhecer e conviver com os melhores do mundo, como o Jordi e a Courtney Dauwalter, a melhor atleta de trail do mundo. Podem imaginar a minha cara quando a vi pela primeira vez… só dizia «isto não me está a acontecer, isto não é real!» [risos] E depois, quando a fotografei lá no alto no vulcão, no momento em que a máquina fez o clique… não tenho vergonha de confessar que as lágrimas me corriam de tanta felicidade [sorriso aberto e emoção], tinha realizado um sonho que foi fotografar a melhor atleta do mundo. Há já muito tempo que acompanhava o desempenho da Courtney, seguia-a nas redes sociais, era uma das minhas referências e naquele momento estar ali a fotografá-la foi impactante… caiu-me tudo, nem queria acreditar!
Mas, pronto, limpei as lágrimas e recuperei, ou tentei recuperar, porque atrás dela viriam mais referências como a Sara Alonso, Mathieu Blanchard, Thibaut Baronian, entre outros.
Se gostou da entrevista e ficou com curiosidade sobre a fotografia desportiva e o trabalho de Juliana Costa, sugerimos que visite o seu site e as suas redes sociais.
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